No dorso Deste momento terno Que de certa forma me embala No silencio Destes meus pensamentos Que em cada sequencia Algo simples Mas de significado forte Me traduz E em surdina me fala
É nesta cadência Que tento guardar Cada instante Cada imagem Próxima ou distante Para que No Universo infinito Do todo o sempre A minha Alma viajante Nunca perca o sabor Desta essência
Nesta gloriosa simplicidade Onde se misturam Texturas macias Mas plenas de tenacidade Abraço as minhas vontades Recupero-me Das quedas e fatalidades E assim Nos instantes longos Em que sinto as tuas mãos Ainda sinto o pulsar Das décadas da nossa história Escritas por letras invisíveis Onde residem As nossas cumplicidades
Que nem tudo está escrito Nas páginas ocultas do futuro Nem nas dunas de areia Que separam o mar O horizonte E a pedra fria daquele muro
Sim Eu sei
Que a enxurrada Provocada pela chuva intensa Retirou a solidez do chão Colocando na esteira do tempo Fragmentos de antigas certezas Que se misturam Com pedras roliças Cobertas de imprecisão
Sim Eu sei
Que a cada dia Novas conjunções condicionais Pausadamente chegam E se instalam Na berma de algumas considerações Em lugares de acesso Onde habitam percursos e hesitações
Na realidade Eu sou e continuo Permanentemente Agradecido Independentemente De qualquer enxurrada De qualquer corda mal atada
Talvez Tenha chegado a hora Que põe à prova A verdadeira substancia Das profundas palavras Que põe à prova A verdadeira essência da combustão Da transpiração Do calor Da simbiose complexa Provocada pelas múltiplas vezes Em que as mãos são dadas
Por isso eu digo Nada é por acaso
Todos os Sinais Todas as curvas Todas as estradas Me dão azo
A observar
Pequenas pétalas imaginadas Encanto das madrugadas Salpicadas Por pequenas gotas de água
Ainda sinto o sabor Da intensidade das palavras Ainda me perco na imensidão Daquelas encruzilhadas Audazes e cristalinas Criadas
Por vontades tão bravas
Ainda me lembro Do brilho dos dias Da música da lua De todas aquelas nuances Que perfumavam o ar E tornavam a linha do horizonte Numa emoção Meia despedida e nua
Guardo na gaveta dos meus sonhos Um pedaço de papel Que rescrevo com um lápis Palavras Frases Conexões invisíveis Como se fossem pingos de mel
Por vezes Neste mar conturbado Distancio-me de tudo Procuro por algo que não sei E sem saber encontro Aquele trilho esquecido Que na vertigem da febre Eu percorri e caminhei
São assim os ventos Que transportam as folhas Num Outono cinzento Onde jazem entre elas Pedaços soltos De criações imaginadas Nos labirintos profundos Dos meus pensamentos
São assim os sons O ranger insistente das texturas Os cânticos doridos da matéria Os silvos quase mudos Que assolam a minha Alma
É como se eu estivesse No parapeito do muro Que envolve o miradouro Da encruzilhada dos tempos
É como se Cada capítulo Já fosse previsível Nos meandros Dos meus pensamentos
Será este um dom Ou será este o preço De quem sem saber Orbita no vácuo das monções Toca as extremidades das estações E sente uma afinidade particular No universo aleatório das colorações
Mas na verdade É todo o caminho Que define o processo É todo o achado precioso Na poeira Do velho pergaminho Que está a necessidade Do avanço e do retrocesso
É como se o trapezista Soubesse Que a distancia do chão É grande Que a concentração se faz Na capacidade Do olhar distante E no ímpeto Que lentamente emerge Em cada instante
Tudo vozes Ecos projectados no espaço Imagens definidas
Quando os humanos São verdadeiramente humanos Quando os Seres são verdadeiros Nas palavras Nos actos e nos dizeres
Quando os homens Reconhecem O lado verdadeiro da Vida Quando as pessoas Se confrontam Com os abismos e as vertigens Sem medida
Quando o esplendor Da essência Transborda na borda do copo Quando a emoção Entrava a garganta Quando a lágrima insolente Escorre na face de alguém Que pelos outros Agradece e sente
Quando se vê a determinação Em prol do resgate do outro Quando se vê a energia A Fé e a Alegria Quando o Milagre É noite É dia Quando o sonho desejado É a realidade Enfeitada de fantasia
Quando me orgulho De Alguém Que nunca vi Que não conheço
No desvendar destes tempos Desvendo também Outros lugares desconhecidos Que habitam neste circulo Como de um regresso se tratasse À partilha genuína Aos momentos Quase esquecidos do Amor
Chega dos meus tormentos Chega desses amargos momentos Em que só eu sei A cor do meu sangue Nas suas várias tonalidades e pigmentos
Julgo que é possível Continuar Sim continuar algo Que sempre considerei único E inesquecível
Nos claustros Nas torres Nos degraus Onde observo as estalagmites Não tem sido fácil
Não Não tem sido fácil Exterminar os fantasmas Criar os anticorpos Proceder à regeneração Revogar os conceitos Destituir enraizados pensamentos Desistir de padrões Segurar ferozmente As mais importantes Reflexões E corajosamente manter Os mais distintos e valorosos Ensinamentos
O que posso dizer Perante tudo isto ?
Nada
Absolutamente nada
Remeter-me ao Silencio
E não dizer nada
E nas horas do silencio profundo
Nas horas em que se faz noite Em cada canto do mundo
Este silencio Que vale mais Que todas as frases Que sobrepõe-se A todos os pensamentos esculpidos A todos os travos amargos A todos os actos declarados E a que todos os desejos inibidos
Este silencio Que traduz os voos esquecidos Que se exprime Em dialecto desconhecido E que é o eco contido De algo profundo Que perde o seu sentido
Este silencio Que é fruto de tantas coisas Antigas viagens Vertiginosas romagens Auto-estradas Rápidas e sinuosas Para as mais elevadas paisagens
Este silencio Que representa o fio quebrado A circunferência Das vontades e dos sonhos Que se transformam Cada vez mais Num deserto árido Cada vez menos resguardado
Este silencio Este cansaço de tudo
Esta nave Esta carruagem Este passageiro clandestino Que habita Um corpo conturbado
Esta voz surda Esta saturação Que por vezes excede Todas as componentes da razão
Nestas confluências De novas constatações Que fazem emergir à superfície Novas considerações
Mais não posso que Reposicionar A minha Consciência Numa realidade De novos horizontes Onde se reinventam Novas abordagens Novas tonalidades Para as mais importantes conexões
Se a ditadura do Ego Há muito perdeu sua influência Não havendo espaço Para a sequência Da sua cruel e habitual turbulência
Reposicionou-se Em seu lugar Uma outra Consciência Na experiência das revelações E das demais observações Nas suas coordenadas Nas suas directrizes Que fornecem Uma vasta dimensão Em cada janela Que se abre à visão Nas suas múltiplas faces Em que é construída A sua infinita abrangência
Assim sendo E perante a angústia provocada Perante uma sociedade Que sem qualquer protecção Se tornou globalizada E sem quaisquer regras Ficou à mercê De ser cada vez mais estropiada
Se por vezes penso Que não tenho o suficiente Nada devo fazer Senão procurar o que preciso Dentro de mim mesmo
Se algum sonho meu fracassar E eu perceber Que esse não passava De mais uma fantasia Terei que descobrir outro sonho Que caiba na minha própria realidade
Se eu estiver angustiado Inseguro Perdido no marasmo pantanoso Dos mais fatais pensamentos Devo desligar-me totalmente Dessa situação Até encontrar de novo O Lugar do Meu Centro
E acima de tudo Nunca me deixar abalar Pelos meus êxitos Nem pelos meus fracassos Pois o fluxo da vida Transporta sempre os dois Enquanto simples estados transitórios E puramente temporários
É neste mapa Que eu sigo o meu trilho
É nesta confluência Onde em permanência Emergem Todas as minhas considerações
No embalo desta viagem Preenchida por este som Vislumbro cenários Fantasias e caminhos Criações e reconhecimentos Que só a minha Alma faz
No embalo desta viagem Descodifico cada timbre Caixa de ressonância do meu silêncio Onde encontro Esse recanto mágico e único Solitário do meu refúgio
Numa cadência abrupta De novas E incógnitas paisagens Não tem sido fácil Gerir o trapézio do meu lugar Onde o equilíbrio E a sabedoria adquirida Se digladiam Nas suas fronteiras E nas suas diluídas margens
Desta minha montanha Observo a imensidão De outros topográficos relevos Outras serras e montanhas Trilhos e novas travessias Que me estão Assim destinadas
No recanto Desse meu solitário refúgio Eu escuto O que os Mensageiros me dizem
E o que Eles dizem
É para deixar ir Deixar fluir Fluir Fluir
Pois tudo é relativo Tudo é substantivo Que se sequencia Com um qualquer adjectivo
E esses Mensageiros Que ao longo deste tempo Sempre me acompanharam Em todas as caminhadas
Amigos do Além Estou de regresso Após este pequeno período Onde da monotonia fugi De mãos dadas Com a minha Alma Corri E perante a tranquilidade E o deslumbramento da natureza Profundamente Em alguns mágicos momentos Eu Agradeci
Estou de volta Já sentado na carruagem Da rotina de cada dia No movimento do trapézio Na equação tentada Permanente na busca Inspirada no equilíbrio Que na neblina densa Até hoje me guia
Dizer que estou bem Ou dizer que estou mal Seria mentir Na presença Dessa luz longínqua Que me chega das estrelas
Seria deturpar Os pigmentos da percepção Os trilhos e os caminhos Das imagens provocadas Pelo timbre de cada pensamento
Que dá cor ao embrião da emoção
Seria não reconhecer A dimensão infinita da Existência Que em cada esquina do tempo Me instiga a procurar mais e mais Me convence Da singularidade das coisas Que em cada momento Toma a direcção Inspirada pelo sopro do vento
Sinto-me assim A meio desta viagem Cujo destino ignoro Não sei Qual será amanhã o lugar O cenário da eventual paisagem
Se será a diversidade Se será o destino incerto A possibilidade natural da decadência
Estes mares ocultos Que emergem Nas horas caladas Dentro das memórias Futuras Presentes E passadas
Esses ventos Que tornam Alguns dos pensamentos Vagas De premonições pictóricas Onde a nuance das cores aleatórias Se mesclam Em abraços lentos
Esta imensidão oculta Que existe Em cada partícula Em cada pedra Sinalizando cada instinto Cada intenção Na procura sempre De matar a fome A uma vontade Ou a um desejo faminto
Esta tradução Que na aparência do acaso Emerge Na pegada de cada passo Assim floresce E numa boca Desinteressada e livre Subtilmente Um sorriso verdadeiro Agradecido cresce
Parto neste período Em busca de coisas simples Em busca de coisas tranquilas Que só a natureza Na sua pujança Na sua energia e beleza Me sabe realmente dar
Vou em busca do verde Do azul calmo das lagoas Do silencio das manhãs Do cheiro primário dos tempos E do céu pigmentado Estrelado das noites
Vou em busca de algo Que me preencha a distancia Entre o mundo que penso E o mundo Em que eu existo
Meus Amigos Aqui neste espaço Muito raramente falo de gente que Por este ou por aquele motivo Abandonou o palco da vida terrena Não o faço habitualmente Por uma questão pessoal Pois acho que a memória Desses homens e mulheres Fica sempre registado nas estrelas …
Hoje Meus Amigos Vou fugir a essa regra
Hoje Vou falar de um Homem Que partiu esta semana A caminho da Luz Seu nome ANTÓNIO FEIO Um Actor singular Um Homem Extraordinário e Único Que perante a doença Sublimou-se e mostrou Ao mundo a grandiosidade Que qualquer comum dos mortais Pode conseguir absorver E assim a todos Grandes Ensinamentos oferecer …
Se existe uma pergunta Que é constante E que consciente E inconscientemente me faço Vezes sem conta É se na verdade Perante as bênçãos da vida Com que sou agraciado Se realmente as valorizo E se sou verdadeiramente consciente Da colossal sorte Com que fui bafejado ?
Meus Amigos Certamente que todos Sentimos o desconforto Desta pergunta Perante as realidades atrozes Que nos cercam …
A Mensagem que O Actor O Homem O Ser Humano António Feio Deixou-nos no trailer do filme “Contraluz “ Realizado por Fernando Fragata Diz-nos tudo Absolutamente o Verdadeiro Absolutamente o Essencial Absolutamente Tudo ….
Apela-nos à Consciência Apela-nos à Essência Apela-nos ao Reconhecimento Apela-nos à Humildade E apela-nos acima de tudo Á Simplicidade com que devemos Viver as nossas Vidas ….
Meus Caros Amigos desconhecidos Sim vocês que aqui vêm Que a vida nos faz cruzar Numa leve brisa Que nos preenche o ar
Isto porque A cada partilha Destas parcas palavras Que aqui vou deixando Fica sem dúvida Esse elo estranho Que a chuva das percepções Aqui vai marcando
A verdade é que Gosto deste meu trilho solitário Apesar do amor intimista Que me cerca Porque é na minha solidão Que encontro a minha razão A força que constrói Qualquer imensidão
Hoje meus Caros Desconhecidos do além Este improviso Musical aleatório De pensamentos aliados a palavras Foi construído pensando em vocês
Gente que eu não conheço Que ao longo destes anos Aqui têm vindo Buscando emoções Contradições E tantos outros sentimentos Que todos incondicionalmente partilhamos
Se é verdade que nunca sabemos O que está Em cada esquina da vida É verdade também que ultimamente Em cada viragem Cruzo-me com A inclinação do abismo Numa quase predestinada monção Onde todos os tons são possíveis Criando tópicos Da mais louca imaginação Ao mais injusto e devastador Dos pólipos da emoção
Nesta encruzilhada De uma realidade sem contemplações Em que os passos por vezes pesam Sulcando o chão já gasto Formam-se assim Pequenas crateras Relevos da entropia dos elementos
Quero acreditar que Por detrás da névoa Existam dignas razões Benesses de algumas provações Que desgastam tão fundo Este magma já sem nome De algumas colorações
Mas se a intempérie é agreste As bases e a estrutura sofrem E no ranger dos seus tormentos Fertilizam novas sementes Que aligeiram Pedaços de um corpo e espírito Cujas zonas Se encontram dormentes
A incógnita das coisas Provoca por vezes Amargos momentos A incógnita das coisas Pode também Fazer acontecer
Neste tempo recente As motivações Têm sido outras Em novos universos Novas incursões Condição de aqui Ter estado ausente
A caminhada continua Entre o prazer agridoce Da fantasia E a realidade permanente Fria e quente Despindo-se de magia Na passerelle de cada dia Mostrando-se crua
Tento situar-me Nas coordenadas do equilíbrio Agarrando cada fio Que se desprende da sintonia Porque é assim Que a vida corre Na sua melodia Na volta e reviravolta Procuro por sinais Neste labirinto De ramagem bravia
Há momentos Em que o silencio Vale mais Que todas as palavras Sejam elas Parcas ou inteiras
Há momentos Em que O silencio que nos invade É a aragem mais pura Que extraímos do vento E a corda robusta e segura Que se agarra Na corrente tempestiva Da insatisfação e do desalento
O silencio É esse Amigo presente Da mais intima verdade É o espaço envolvente Que se relaciona com o Ser Purgando a realidade
Aí se descobrem Pedaços soltos Peças perdidas Curvas apertadas Velhos passeios E outras calçadas Onde na espiral dos dias Se tentam encontrar Possíveis sentidos
Em etapas sensíveis Na convulsão do contraditório As palavras podem ser rastilho Cogumelos envenenados Estilhaços colaterais De motivações sem brilho
Não sei como têm sido Todos estes dias Nem sei como Tenho eu resistido Às vertigens Dos abismos provocados Pelos raios Dos meus pensamentos Cujas luzes são tão fugidias
Encontro-me Num lugar Cujo nome desconhecia Encontro-me A caminho de qualquer coisa Ignorando por completo O relevo e o tempo Desta travessia
Hoje Deixo-me ficar Na expectativa Aguardando por algo Talvez sagrado ou superior Ou então algo Que inunde por completo Este meu espaço interior
Hoje Vivo entre a nascente E o rio que segue Rumo ao poente Hoje Por mais que pense Nunca sei O que se esconde No dia a dia No seu ritmo