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domingo, 22 de março de 2009

Nestes Meus Reparos ...







Reparo que
Esta minha vontade
Nunca tem hora marcada
Ela nasce
Sob uma forma qualquer
Que fica
Do outro lado
Da razão e da lógica
De onde vem
Tranquila
Calma e destemida
Uma cascata invisível
Que para mim
Jamais terá só
Um único nome


Reparo que
Nas visitações
Dos múltiplos enredos
Nascem linhas distorcidas
Configurações
De imagens e elementos
Que despertam
Neblinas fumegantes
Lanternas autónomas
Nos bastidores
Do palco da minha mente
Cumprindo-se assim
Rituais
Que desenrolam novelos
Onde os fios são desfeitos
Em micro espelhos de palavras


Reparo também que
Na sombra da minha memória
Repousam poeiras
Também pedaços de instrumentos
Alguns outros
Preciosos ornamentos
Que recordam passagens
De inúmeros momentos
Que foram deixando
Marcas sulcadas
Folhas pintadas
E páginas riscadas
De onde emergiram
Profundos ensinamentos


Lentas manifestações
Fluidos ancestrais
No corpo
No espírito
Nos confins da alma
Orgânicas dissoluções
Iluminadas soluções
Em campos delimitados
De húmida e negra terra
Onde profícuas sementes outrora
No rastreio das escolhas
Cuidadosamente colhidas
Foram ao raiar
Da Mãe estrela
Na pureza sublimadas
E aos olhos dos magos mensageiros
Meticulosamente regadas


São meros reparos
De pequenos e grandes sentires
Nas curvas da eternidade
Sustentadas
Por ecos de vozes longínquas
Num discurso intimo
Em silencio declamadas
Onde tantas vezes a consciência
De uma justiça plena
Que não é esta
Incongruente justiça dos homens
Mas sim outra
Que está acima de tudo
E como tal
Longe e distante
Da maioria dos curtos
E preguiçosos olhares


Estes reparos
Que por aqui partilho
São fruto de imensas
Inexplicáveis incursões
Em mares e oceanos
Muitas vezes desconhecidos
Mas que no roteiro dos
Pensadores inconformados
São em cada fase
E em cada momento
Construídas novas etapas
Novos mapas
Novas leituras
De percepções e coordenadas
E assim outros marcos
São no tempo estabelecidos


Nas florestas míticas
Em que os sons da noite
No arrepio se ampliam
Desmonto do dorso
Da besta da razão
E depois de
Uns passos dados
Sento-me numa pedra no chão
E respiro o ar cheio
Um inspirar profundo
Que me faz mergulhar
No misterioso meio
Revelando outros mundos
De inexorável dimensão


Nesta minha liberdade
E no Amor incondicional
Que recebo e tenho
De uma Mulher
Incomparávelmente única
Separo os caminhos
Entre os tesouros que desfruto
E a busca
Entre os prazeres da carne
A fome da alma
E a extensão infinita do espírito


E é nestes meus reparos
Que reconheço serem
De complexa acessibilidade
Na essência da real compreensão
E no suco
Do verdadeiro entendimento

Sigo assim
Na mesma verticalidade
Deste meu sinuoso caminho

Mastigando cada gota

Deste sabor salgado
Do suor escorrido
Ao longo



Destes meus

Singulares trilhos ….