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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Zafira
As Palavras dela ;
Agora, nestes meus dias, só existo eu e a minha família, a minha participação no mundo onde existem os outros é cada vez menor, esta será talvez uma oportunidade, uma outra fase de reinvenção de mim mesma.
Tal como a terra, a sismologia do meu destino, tem sido feita de ajustes e erupções, e a lava não arrefece, ela está sempre em movimento.
Sinto a falta dos meus pais, sinto a falta de Zaci Omar, esse meu sábio e distinto avô, que pelas palavras simples tanto me ensinou.
Muitas vezes quando estou sozinha, algures nesta cidade europeia, onde tudo é brilho, movimento e glamour, deixo-me escapar por entre a multidão, tornando-me uma sombra esquiva, viajante de mim mesma.
Nos sons das viaturas que circulam, nos transeuntes, nas vozes e gargalhadas que preenchem os espaços, desenraízo batuques e dançares onde os vultos que vejo, ondulam em sensualidades, num rufar crescente e profundo dos tambores que só eu escuto, estremeço-me, com o calor de insanidades felinas que me invadem.
Fico possuída por mim mesma, tomo posse dos meus instantes, do lugar onde estou, e da plenitude do universo.
Onde existe luz resplandecente da cidade, eu vejo moto wa sherehe za kale, como diziam os nossos asili, são fogueiras de rituais animistas, formas ancestrais de devota gratidão, às árvores, aos animais, aos rios, à terra e a toda envolta natureza que nos sustenta a sobrevivência, o alimento, e o desfrutar da vida.
Passado algum tempo, regresso sempre ao mundo de todas as realidades, ao meu dever de esposa e de mãe, à necessidade de continuar desenhando e construindo o nosso destino, na companhia de Kuat , meu bondoso marido, de Zaki e Zarina, meus filhos, que nos alimentam a alma, na vital e incomparável importância, da sua presença e companhia.
A minha família, é o meu lugar e o meu abrigo, onde me deixo Ser sem receios.
É também o lugar onde os afetos e o Amor se cruzam, sustentando-me, e ensinando-me muitos Saberes.
Luis de Sousa - Excerto de " Zafira "