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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
Na Órbita do Mundo
Yasmin estava desolada, durante três dias não saiu de casa, o mundo parecia ter perdido as suas cores, e não havia nada que fizesse acender qualquer estrela no seu coração.
Isaac Farouk, abraçou-a, e durante algum tempo assim permaneceram juntos, unidos pelo maior laço de todos os amores, aquele milagre vitalício, que enlaça pais e filhos.
Com a sua voz calma e serena, disse-lhe;
- Minha filha, a maior armadilha de todas, é a armadilha da desilusão, quando esperamos dos outros, o preenchimento dos espaços vazios que habitam a nossa morada.
Esses espaços vazios são só nossos e de mais ninguém, são como mares revoltos onde aprendemos a nadar.
Com as braçadas do tempo, vamo-nos tornando seres salinados e aquáticos, como peixes ou estrelas-do-mar. Esses mares outrora revoltos, parecem reconhecer-nos, tendo assim tendência a acalmar.
Palavras sábias que Yasmin bebeu, como se aquela água pura e límpida feita de palavras, fossem gotas miraculosas, que por vezes salvam a vida de um qualquer naufrago.
Para Yasmin, a vida começara a mostrar-lhe outras faces, a realidade impunha-se cada vez mais, e de forma cruel e avassaladora, essa realidade ia conquistando dia a dia mais espaço à utopia dos seus pensamentos. O mundo ia deixando de ser o jardim encantado que foi construindo e criando na sua imaginação, mostrando as suas farpas, as suas incongruências, e todas as suas contradições.
Luis de Sousa in excerto de " Na Órbita do Mundo"
em " Vozes que vêm de dentro"