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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

É preciso redescobrir a sabedoria da vida (parte 1) ...




(…) É preciso redescobrir certos valores que vão desde o uso do ócio à procura do tempo para amar os seus filhos .
É preciso redescobrir a liturgia da relação com os outros , porque o amor se exprime por formas concretas e por situações objetivas, sem as quais os afetos e o amor não encontram realização …

António Alçada Batista in " Peregrinações Interiores I"




quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Procurar o Sonho é Procurar a Verdade ...




A única realidade para mim são as minhas sensações.
Eu sou uma sensação minha.
Portanto nem da minha própria existência estou certo.
Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas.
A verdade?
É uma coisa exterior?
Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza.
Uma sensação minha?
De quê?
Procurar o sonho é pois procurar a verdade, visto que a única verdade para mim, sou eu próprio.

Isolar-se tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.


Fernando Pessoa, 'Textos Filosóficos'


terça-feira, 27 de outubro de 2015

Os nossos "Ricos" ...



A verdade é esta:
são demasiado pobres os nossos «ricos».
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.


Mia Couto in “ Pensatempos “




sábado, 24 de outubro de 2015

Surto Vital ...




Sinto que um imenso surto vital irrompe na grande comunidade de espaço e de tempo em que estamos imersos.
Que ele é feito do esforço dos criadores, santos, poetas e sábios, nomeados ou não, que ao longo dos tempos fizeram dum pequeno sopro interior a epopeia da conquista da verdade e da liberdade que paira ao longo da história como sua e nossa justificação.
Sei que para a maioria das pessoas coisas destas nada significam, mas que há outras que fizeram da sua integração nesta epopeia a sua razão de viver.
Julgo que Deus estará em mim e eu nele enquanto for capaz de manter esta vontade vital de permanecer na força do seu vórtice criador.



António Alçada Baptista
in Peregrinação Interior I



quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Coisas sem princípio nem fim ...




(...) Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes.
Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos;
acredita na integridade da água, do vento, das estrelas.
Eu acredito na continuidade das coisas que amamos,
acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara,
para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos,
para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa,
para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido.

Nisto eu acredito:
na veemência destas coisas sem princípio nem fim,
na verdade dos sentimentos nunca traídos.


Miguel Sousa Tavares, in 'Não Te Deixarei Morrer, David Crockett '


terça-feira, 20 de outubro de 2015

Cessa de Correr !




Se não cessas de correr,
marulhando no ar tépido com as tuas mãos como natatórios,
olhando furtivamente tudo diante de que passas no meio-sono apressado, acontecer-te-á também um dia deixar passar diante de ti o carro.
Se te mantiveres firme, pelo contrário,
com o poder do teu olhar fazendo crescer as raízes em profundidade e em comprimento
- nada então te poderá eliminar
- em virtude não das raízes mas da força do teu olhar que escruta
- será então que verás o longínquo imutavelmente obscuro de onde nada pode surgir a não ser precisamente uma vez este carro que rola para ti,
que se aproxima, cada vez maior e que,
no próprio instante em que entras em tua casa,
enche o mundo enquanto mergulhas nele como uma criança no banco acolchoado de uma diligência
que corre através da tempestade e da noite.


Franz Kafka, in "Meditações"






segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Pergunta-me ...




Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer



Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'





domingo, 18 de outubro de 2015

A Palavra Mágica ...





Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.



Carlos Drummond de Andrade, in 'Discurso da Primavera'



sábado, 17 de outubro de 2015

É preciso ver o que não foi visto ...



É preciso ver o que não foi visto,
ver outra vez o que se viu já,
ver na Primavera o que se vira no Verão,
ver de dia o que se viu de noite,
com Sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde,
o fruto maduro,
a pedra que mudou de lugar,
a sombra que aqui não estava.


José de Sousa Saramago in "Cadernos de Lanzarote"




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sou ...




Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.


Fernando Pessoa in " Poemas "



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Diz o Meu Nome ...




Diz o meu nome

pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome




Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'


terça-feira, 13 de outubro de 2015

O Outro Lado ...




Mais perto é a planura, a base das nossas imediatas necessidades, o trabalho, o alimento, o amor, a família, as relações que construímos ao longo do tempo, e tudo o resto que completa o ciclo e a matriz plana da nossa existência.

O outro lado, é a consequência da elevação, é a necessidade de gerir e compreender o lado invisível que nos guia, resgatar as vozes que nos habitam silenciosamente, procurar no mundo das realidades as faces do espírito e da alma, descodificar a potência emergente criativa, desencadear a busca de processos alternativos que propiciem a superação, o desenvolvimento de capacidades adormecidas e latentes que nesta encruzilhada e neste movimento, nos façam conhecer novos estádios de evolução.


Luis de Sousa - Excerto de " O Outro Lado "


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Cada Dia é Sempre Diferente dos Outros




Cada dia é sempre diferente dos outros, mesmo quando se faz aquilo que já se fez. Porque nós somos sempre diferentes todos os dias, estamos sempre a crescer e a saber cada vez mais, mesmo quando percebemos que aquilo em que acreditávamos não era certo e nos parece que voltámos atrás. Nunca voltamos atrás. Não se pode voltar atrás, não se pode deixar de crescer sempre, não se pode não aprender. Somos obrigados a isso todos os dias. Mesmo que, às vezes, esqueçamos muito daquilo que aprendemos antes. Mas, ainda assim, quando percebemos que esquecemos, lembramo-nos e, por isso, nunca é exactamente igual.
— Porquê, pai?
— Porque a memória não deixa que seja igual, mesmo que seja uma memória muito vaga, mesmo que seja só assim uma espécie de sensação muito vaga. É que a memória não é sempre aquilo que gostaríamos que fosse. Grande parte dos nossos problemas estão na memória volúvel que possuímos. Aquilo que é hoje uma verdade absoluta, amanhã pode não ter nenhum valor. Porque nos esquecemos, filho. Esquecemos muito daquilo que aprendemos. E cansamo-nos. E quando estamos cansados, deixamos de aprender. Queremos não aprender por vontade. Essa é a nossa maneira de resistir, mais ou menos, àquilo que nos custa entender. E aquilo que nos custa entender pode ter muitas formas, pode chegar de muitos lugares.
— Porquê, pai?
— Porque nos parece que é assim. Mas talvez não seja assim. Aquilo que nos custa entender é sempre uma surpresa que nos contradiz. Então, procuramos convencer-nos das mais diversas maneiras, encontramos as respostas mais elaboradas e incríveis para as perguntas mais simples. E acreditamos mesmo nelas, queremos mesmo acreditar nelas e somos capazes. Somos mesmo capazes. Não imaginas aquilo em que somos capazes de acreditar.
— Porquê, pai?
— Porque temos de sobreviver. Porque, à noite, a esta hora, temos de encontrar força para conseguirmos dormir, descansar, e temos de acreditar que no dia seguinte poderemos acordar na vida que quisemos, que desejámos. Temos de acreditar que poderemos acordar na vida que conseguimos construir e que essa vida tem valor, vale a pena. Muito mais difícil do que esse esforço é considerarmos que fomos incapazes, que não conseguimos melhor, que a culpa foi nossa, toda e exclusiva.

José Luís Peixoto, in 'Abraço'


domingo, 11 de outubro de 2015

Aquela Praia ...




Lembram-se ?
Lembram-se ?

Daqueles dias em que o tempo se sucedia , onde nada importava a não ser aquele mesmo dia …

Aqueles dias que vivíamos à margem de qualquer coisa, sem sabermos que estávamos a viver algo de verdadeiramente único, de colossal significado, onde tudo se desenrolava na pureza de cada instante , e na leveza com que nos brinda a alegria de ser imensamente feliz num lugar onde era possível existir na verdade e na inocência …

Aquela praia , na vastidão do azul sereno sem fim , e o branco do areal fino que nos amaciava os pés e tudo em volta era espaço , liberdade de sermos grandiosamente espontâneos e verdadeiros .




Luis de Sousa, Excerto de " Aquela Praia "

sábado, 10 de outubro de 2015

Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo ...





Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento


Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'




sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Lua Adversa ...






Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...


Cecília Meireles, in 'Vaga Música'




quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Desígnios de uma Vida ...




Ser Diferente

A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim,
com todo o valor,
todo o vigor e toda a rija impassibilidade;
tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa;
não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores;
ser ele;
não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento;
no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças;
teve a coragem de ser cão entre as ovelhas;
nunca baliu;
e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte
e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos.


Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Os intraduzíveis ...




Os Pensamentos Intraduzíveis


É sabido que comboios completos de pensamento atravessam instantaneamente as nossas cabeças,

na forma de certos sentimentos, sem tradução para a linguagem humana,

menos ainda para uma linguagem literária... porque muitos dos nossos sentimentos,

quando traduzidos numa linguagem simples, parecem completamente sem sentido.

Essa é a razão pela qual eles nunca chegam a entrar no mundo, no entanto toda a gente os tem.



Fiodor Dostoievski, in 'Uma Anedota Sórdida'




segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Está no Amor que Não damos ...





A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que,
esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.


Carlos Drummond de Andrade



Depois das Eleições ...




( Eleições em Portugal que tiveram lugar no dia de ontem 04.10.-2015)


Depois das Eleições


Depois de uma campanha eleitoral animada, a grande vantagem de qualquer eleição democrática é a de o povo sair, finalmente, da sala de estar dos políticos.

É uma sensação de alívio que alguns eleitos descrevem como semelhante ao momento em que uma dor intensa, por qualquer razão obscura, termina.

(...) Depois de qualquer eleição a sensação dos políticos - quer tenham perdido quer tenham ganho - é a de que o povo mais profundo acaba de entrar todo num comboio, dirigindo-se, compactamente, para uma terra distante. Esse povo voltará apenas, no mesmo comboio, nas semanas que antecedem a eleição seguinte.


Esse intervalo temporal é indispensável para que o político tenha tempo para transformar, delicadamente, o ódio ou a indiferença em nova paixão genuína.



Gonçalo M. Tavares, in 'O Senhor Kraus'






Nasci ...




Hoje Tomei a Decisão de Ser Eu


Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão.

Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.

Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.

Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste.

O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto.

Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.


Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.



Fernando Pessoa, 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'






domingo, 4 de outubro de 2015

Só dentro de Mim ...





Queria tocar em cada partícula do meu Sentimento ,
Queria retratar todos os pontos da imagem que seriam a expressão perfeita do que representas para mim, mas esses pontos não podem ser retratados em nenhuma textura material , pois eles só existem no seu todo , na sua máxima e genuína expressão de Amor, só dentro de mim .

Quero guardar nos dedos das minhas mãos , no espelho dos meus olhos , no aconchego dos meus Pensamentos , o calor dos nossos Abraços , o soltar das tuas gargalhadas , e o pó fino dourado das nossas conversas …


Hoje meu Filho completas 11 anos de idade,
Tesouro da minha Vida, Muitos Parabéns, Muita Saúde e
Que os Deuses do Universo te Guardem e Te Protejam Sempre !



Teu Pai
Luis de Sousa




sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Se pudesse …




Se pudesse ter uma vida paralela,

gostaria de ter a vida de um caracol ,

carregando comigo a casa

e plantando-a

onde houvesse
Sol e Silêncio ,

onde houvesse
Mar e Espaço ,

onde houvesse
Tempo e Distância …



Miguel Sousa Tavares in “ Não se encontra o que se procura “




quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O Outro Lado ...




Quem escreve

não pode olhar

para onde toda a gente está a olhar,

mas para o outro lado.


Gonçalo M. Tavares in Jornal de Letras, Artes e Ideias